Associação internacional dos bancos sugere órgão mundial para regular finança, reforma do FMI e de vários mercado.
Vinícius Torres Freire, Folha de S.Paulo, 3 de outubro de 2008
O HOMEM que dirige a associação mundial dos bancos sugeriu ontem que as maiores instituições financeiras do planeta precisam de uma espécie de governo ou governança mundial. Charles Dallara, diretor-gerente do Institute of International Finance (IIF), escreveu tal coisa numa carta à cúpula das finanças mundiais. Trata-se do indício até agora mais evidente de que o pânico financeiro tornou-se pânico político na finança mundial. O título da missiva: “Crise Sistêmica Exige Ações Extraordinárias”.
O IIF pede uma reforma da regulação, das normas que em tese determinam o que podem ou não fazer as instituições financeiras. “O foco [da reforma] deve estar numa supervisão mais eficiente e coordenada de modo mais global.” Sim, Dallara sugere a criação de um “novo corpo regulatório global”, que teria a missão de regular e supervisionar, de maneira internacional, as instituições financeiras mais importantes. A carta é dirigida ao Comitê Monetário e Financeiro Internacional (IMFC), uma espécie de “Conselho do FMI”, composto de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais de 24 países de várias regiões do mundo, entre eles o Brasil.
“Onde for absolutamente necessário”, o IIF “enfatiza” que “capital dos governos deve ser temporariamente injetado” e devem ser tomadas medidas para atrair dinheiro do mercado, incluindo “fundos de pensão e Sovereign Wealth Funds que queiram injetar capital novo [em bancos frágeis] neste momento de grande incerteza” . Os fundos soberanos mais ativos e capitalizados se encontram na China, em Cingapura e em países petrolíferos do Oriente Médio.
Dallara também quer reforma urgente do FMI: “(…) não podemos deixar que um pilar do sistema financeiro global seja incapaz de agir em tempos de crise”. Recomenda “reformas estruturais” nos mercados de energia e de produtos agrícolas. Sugere até a revisão da política de pagamento de altos executivos.
O IIF quer que o G7 seja ampliado para incluir países emergentes “importantes”. O G7 reúne periodicamente lideranças de EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá para tratar da ordem econômica global. Desde o final dos anos 80, tem sido bem ineficaz.
A carta do IIF começa por dizer que é preciso aprovar o pacotão financeiro americano e que são necessárias medidas “fortes e preventivas” das autoridades européias.
O IIF insinua, por fim, que seria preciso reformar a contabilidade das instituições financeiras. Está em debate como tais firmas devem registrar nos balanços o valor de seus ativos financeiros. O registro pelo valor de mercado dos títulos imobiliários podres teria criado, na visão de alguns, um círculo vicioso: quanto menos valem os ativos, mais descapitalizados e frágeis ficam os bancos. Na tentativa de reforçar o capital, os bancos vendem ativos numa espécie de liquidação, o que diminui ainda mais seu valor, realimentando uma espiral da morte.
Para voltar ao habitual, Dallara pede reformas para “incrementar a flexibilidade de mercados de trabalho e de produtos, a fim de reduzir os custos dos ajustes a choques econômicos”. Mas isso é detalhe. O tom maior da carta é o pânico político.
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